17 abril, 2009

O Poderoso Chefão


Não poderia começar diferente. Tinha que ser com uma obra-prima.
Porque sua vida é sim um thriller de ação, romance e suspense.
Seus dias mais parecem mesmo saídos da película do Coppola.
Não que tenham gângsteres espalhados por aí ao seu redor, ou que ele tenha qualquer ligação com a Máfia.
Mas é porque nesse dias, tem acreditado muito no determinismo das coisas.
Tal qual Michael Corleone, sabe que chega um ponto em que não se é mais possível retornar.
Só há um caminho a seguir. Ambos estão conscientes disso e partilham da sensação de que não tem volta, não se pode mudar.
Com a diferença de que na história real, é o protagonista que se vê cercado de ajuda, de boas-almas, embora nunca siga seus valiosos conselhos.
Assim como o clã dos Corleone, ele também tem laços fortes com a família, vê ali seu alicerce, seu porto seguro, apesar da distância.
Tal qual Michael, sua a felicidade completa só se dá devido à presença de sua Kay.
Partilham segredos, sonhos, sentimentos.
São companheiros, se complementam, se ajudam, se gostam.
E aquela presença o faz mais feliz, mais seguro de si, mais companheiro.
Oculta o seu lado Don, que insiste em se mostrar, incomodar, afligir.
E no seu duelo interno quase diário entre Don Corleone e Michael, é o mais belo lado que triunfa ao menor sorriso de sua Kay, seu abraço, seu sorriso.
Mas tal qual no filme, na sua vida são necessários Plot Points, tramas, acontecimentos.
Porque sua Kay não era sua.
Não poderia ser.
Ele entendia.
Aceitava.
Acreditava.
Tentava um mundo novo.
Mas invariavelmente, sempre caía nos abraços dela, e na ilusão de um mundo que em sua mente sonhadora, sempre via, vislumbrava.
E à medida que Michael torna-se um transgressor da lei, ele torna-se um transgressor das coisas que deveriam ser certas.
Age contra o modo como deveria agir, egoísta.
É quase o mafioso a desafiar o estado natural das coisas e remar contra a corrente, em vão.
No fundo, ele sabe que é em vão, mas crê.E sabe também que há um ponto onde não se pode mais voltar.
Ou se fica parado ou se segue.
Michael faz a sua escolha.
Ele continua em dúvida.
Em comum, a aflição interna, a dualidade, os momentos de felicidade.
Apesar dessa ilusão de livre-arbítrio, assim como os personagens de um roteiro qualquer, há Alguém que escreve a história, que comanda as ações dos personagens, seus caminhos.
E se numa metáfora perfeita do filme, no cartaz há a mão do Padrinho comandando a todos pela marionete, seus passos também são dirigidos por um Artista, que os move à sua vontade.
Só pede para que, por favor, Mario Puzo, aí em cima, sentado ao lado, tão perto do Roteirista, dê uns conselhos para as próximas cenas, com menos suspense e mais ação.
Sugira que se passe logo pelo Plot Point e siga à resolução da história.
Ainda que o final da Kay dele seja o mesmo da de sua história.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. apesar de não ter assistido a nenhum dos filmes da trilogia (e esperar, desesperadamente, ter essa oportunidade um dia), acho que consegui captar a essência da história.
    clássico dos clássicos.
    ele tem, sim, alguma ligação com a máfia. não a mesma. outra. máfia de sonhos e ideais.
    não percebe, mas tem sim. e não pode mais fugir. ela o comanda (não ele a ela).
    seguir conselhos nunca é fácil. nem sempre é o que se faz.
    a gente só percebe o valor daquele conselho dado quando não o segue. deixa passar. faz o contrário. e se arrepende.
    duelos internos são a razão do viver. de ambos. ela também não sabe bem quem é. é dupla. mais de uma. múltipla. não se conhece tão bem a ponto de se permitir ser uma só.
    ela é dele até certo ponto. ela consegue ver. ele também. mas não quer enxergar.
    ele sabe que ela será sempre sua. mesmo não sendo mais do que já é.
    e depois de um tempo, percebem que, mafiosos, transgressores da lei, são os corações. que nunca aceitam a ordem e a tranqüilidade.
    o Roteirista fanfarroneia, mas é o único que sabe onde, quando e como a história vai terminar.
    cabe a eles confiarem. apenas isso.

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